Facebook equilibra direito de expressão, publicidade e censura

04/06/2013 16:17
ter, 04/06/13 por Altieres Rohr

(Photo Credit: My.Aegean.gr student initiative (Flickr.com) Used under the Creative Commons License.)

Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quintas-feiras.

O Facebook anunciou na semana passada que vai aumentar a supervisão de conteúdo para retirar do ar mensagens violentas. O anúncio ocorre em meio aos boatos de que a rede social pode ser incluída em uma investigação sobre circunstâncias que levaram uma italiana de 14 anos à morte, e também a um erro em que uma mensagem da página “Dilma Bolada” foi removida da rede social.

Para muitos internautas talvez ainda não esteja claro o quanto o conteúdo visualizado no site do Facebook é selecionado pela própria rede social. Mas o feed principal de notícias, que aparece quando o site é acessado e tem as publicações de amigos e páginas curtidas, é sempre “direcionado”, exibindo apenas o que o Facebook chama de “Principais histórias”. O que constitui essas “principais” histórias depende dos cálculos realizados pelo sistema do Facebook.

O Facebook tem lá alguns motivos. Um deles é aumentar a quantidade de conteúdo “interessante”. Sempre que você interage com um conteúdo, curtindo ou comentando, o Facebook sabe disso e utiliza essa informação para decidir quais tipos de conteúdo você verá – e quais deixará de ver – no futuro. Os mesmos dados também fazem parte da base usada pelo Facebook para determinar qual o melhor anúncio publicitário para ser exibido.

A escolha de uma informação em detrimento de outra faz parte do funcionamento do Facebook e talvez seja também o que impediu a rede social de, com o tempo, perder seu valor. Afinal, com o crescimento do número de amigos, a quantidade de “lixo” poderia ser tão grande que reduziria o tempo que seria gasto com o Facebook. A filtragem automática ajudou a manter a quantidade de conteúdo relevante, baseando essa relevância nas decisões dos próprios usuários.

Por outro lado, sabendo que o Facebook já escolhe o que exibir para todos nós, como dizer que o Facebook não é responsável pelo o que é exibido, pelo menos indiretamente? Nenhum utilizador do Facebook sabe exatamente quais são as regras que os sistemas do Facebook usam para determinar se algo vai ser exibido ou não futuramente. Desde já, conteúdos das páginas que você curtiu e dos seus amigos estão deixando de ser exibidos porque o site decidiu que eles não são relevantes.

Censura
Segundo o Facebook informou ao G1 ainda na semana passada, a publicação da página “Dilma Bolada”, que fazia uma piada com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), foi retirada do ar automaticamente devido a um alto número de denúncias contra a mensagem. Ou seja, é possível tirar conteúdo “indesejado” da rede social formando grupos que denunciem aquele conteúdo.

Em fevereiro de 2012, uma reportagem do site Gawker conseguiu confirmar que o Facebook contrata empresas terceirizadas para fazer a parte manual da filtragem de conteúdo, analisando as denúncias de usuários. Essas empresas, segundo informações obtidas pelo Gawker, contratam pessoas de países em que a remuneração é menor, como México e Índia, mas que tenham proficiência em inglês, para trabalhar por cerca de R$ 2 a R$ 8 por hora, ou R$ 320 a R$ 1.320 por mês.

Os “censores” do Facebook possuem acesso ao conteúdo que é denunciado, mas nem mesmo são informados de que aquele conteúdo pertence ao Facebook ou de onde o conteúdo veio.

O Gawker obteve ainda uma lista detalhada do que pode e o que não pode ser publicado na rede social. A lista obtida pelo site, que não foi confirmada pelo Facebook, traz regras flexíveis para conteúdo violento, inclusive pessoas sendo esmagadas e até sangue, “desde que não muito”, mas é contrária a todo tipo de conteúdo sexual, mesmo que sem nudez (leia a reportagem, em inglês).

Existe também uma variedade de controles contra spam e vírus na rede social, que podem eventualmente bloquear a publicação de links legítimos.

Necessidades e bolhas
Devido ao seu alcance, o Facebook acaba sendo plataforma de divulgação de conteúdos indesejados. O caso, que levou ao suicídio de uma jovem de 14 anos na Itália, depois que fotos foram publicadas por um grupo de adolescentes, é um dos exemplos em que a remoção de conteúdo teria sido benéfica.

O tempo é um fator delicado em questões como essa, e fica realmente a dúvida sobre como os censores do Facebook precisam funcionar para conseguir eliminar apenas o conteúdo indesejado e manter aquilo que os internautas querem ler. O problema fica ainda mais difícil quando considerados fatores culturais, como costumes e idiomas, que complicam a análise do que é publicado.

Por outro lado, há quem argumente que não compete ao Facebook censurar nada – que adultos devem ser responsáveis, e crianças devem ser monitoradas e orientadas pelos pais.

Mas, mesmo sem tipo de censura, há, ainda, um risco nos filtros que criamos para nós mesmos. Eli Pariser, cofundador do site de ativismo “Avaaz”, alertou em 2011 em uma palestra na conferência TED que os sistemas automatizados que classificam conteúdos podem nos colocar dentro de “bolhas” (assista ao vídeo). Com o tempo, redes sociais personalizadas como o Facebook podem acabar nos oferecendo apenas “mais do mesmo”, limitando a capacidade que ela teria de apresentar ideias novas e expandir nossas fronteiras.

As únicas recomendações chegariam por meio do “risco pago”: a publicidade.

Encontrar o ponto de equilíbrio entre aquilo que precisa ficar no ar, o que deve sair, o que queremos ver e aquilo que querem nos mostrar não é uma tarefa fácil, e não há dúvida de que veremos muitos casos de conteúdo que ficou no ar quando não devia, e conteúdo que saiu do ar sem necessidade. Mas o Facebook arranjou para si mesmo esse “problema” quando definiu que queria decidir por nós o que vamos ver, mesmo quando não pedimos por isso.

Fonte: G1

Vídeo: Ted.com

 

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