E aí, já jantou hoje?
Pois eles não!
Aliás, não jantaram hoje, nem ontem, nem anteontem, muito menos almoçaram ou fizeram qualquer tipo de refeição. Essa tem sido a realidade de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Ao vermos o desdém, e até mesmo o desperdício, com que são tratados os alimentos nos países chamados “RICOS” é impossível não sentir vergonha. Enquanto lutamos contra a obesidade infantil, problema que já toma proporções críticas em nosso meio, países como Burundi; Chade; Eritréia; Costa do Marfim; Etiópia e República Democrática do Congo, os índices de morte por inanição é um verdadeiro desastre humano (fonte CFN/Brasil).
Em nossa experiência ministerial pudemos vivenciar tal situação no Haiti pós-catástrofe, onde crianças nos eram trazidas em extremo estado de desnutrição e o único remédio que necessitavam era um simples prato de comida. Vimos pessoas lutando por uma maçã lançada impensadamente por um turista americano, e outras que trabalhavam o dia inteiro conosco apenas pela certeza de um prato de feijão com arroz no final do dia. Tomamos conhecimento de fatos como das crianças que se alimentavam com bolachas feitas apenas com barro; água e um pouco de sal. Histórias de luta pela sobrevivência num país arrasado por um terremoto, com 90% de desempregados, onde o sabor a aparência ou mesmo uma simples repetição de alimento não faz a menor diferença, o importante é conseguir o que comer. Difícil para nós comermos lá, mais difícil voltar e encarar nossas várias refeições diárias da mesma forma. Até o ato de beber um simples copo d’água toma um sentido completamente diferente. O acesso a água potável no Haiti hoje é muito pequeno, aliás, esse é outro problema crescente no mundo onde 1,7 bilhão de pessoas hoje não tem acesso a água potável, isso mesmo, 1,7 bilhão (Fonte/ONU)! E já que estamos falando em números, 1 em cada 7 pessoas no mundo passa fome, e pasmem, 30 mil crianças morrem de fome no mundo a cada dia, e estima-se que 275 mil outras pessoas entram nesse caminho letal (fonte/revista Carta Capital).
Mas você deve estar pensando: “E eu com isso? Esse não é o meu contexto! Moro em outro país completamente diferente.”
- Não é tão simples assim!
Como igreja de Cristo, todos somos irmãos. A igreja que Jesus estabeleceu na terra não tem paredes nem limites territoriais, e como “os que se chamam pelo nome Dele”, estamos todos ligados à mesma videira.
A palavra EKKLESIA, usada nos textos gregos do novo testamento quando queriam referir-se à igreja, tem uma tradução mais forte do que possamos pensar, pois era um CHAMADO PARA FORA.
Faz sentido agora?
Somos parte do mesmo corpo e quando uma parte do corpo adoece todo o corpo é afetado. Como costuma dizer um pastor haitiano amigo meu: “Somos uma só igreja em diferentes localidades”!
Hoje, com apenas U$ 200 você pode mudar a realidade da família de um Pastor no Sudão. Pode parecer surreal, mas em países cuja população vive abaixo da linha de pobreza, não há acesso a qualquer tipo de crédito ou mesmo microcrédito. A M.A.I.S. (Missão em Apoio a Igreja Sofredora / www.maisnomundo.org) tem projetos de acesso a microcréditos para pastores no Sudão, mas tem esbarrado num fator primordial à execução desses projetos, a saber, apoio financeiro.
Segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo XXV, “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.”
Juntos podemos iniciar o processo que tornará diferente o mundo onde vivemos, basta abrirmos nossos corações e vivermos em plenitude esse “amor incondicional” ensinado por Jesus. Temos que deixar os jargões cotidianos falados da boca para fora e passarmos a vivê-los em Espírito e Verdade. Nossa preocupação com o TER tem que dar lugar ao SER. Nada contra um maior conforto em nossas congregações, desde que isso não seja mais importante que o bem estar de “toda a igreja”. O IDE de Jesus não é opcional, já pensou nisso? Não posso e não quero crer que há cristãos mais preocupados com a gota de suor que corre no rosto durante o culto que com a criança que morre de fome no interior do nordeste ou no Haiti. Muito temos investido na nossa “zona de conforto” negligenciando nossa “missão” como discípulos de Cristo. Estamos aqui, mas não somos daqui!
“Les Miserábles” do escritor francês Vitor Hugo, é uma obra literária do século XIX que testemunhava a miséria daquele século. Existe uma canção secular oriunda de um musical muito famoso baseado nesta obra, que conta a história da personagem Fantine, e esta canção, de nome “I dreamed a dream”, possui em seu último verso o seguinte sentimento:
Eu tive um sonho que minha vida seria
Tão diferente deste inferno que estou vivendo
Tão diferente daquilo que parecia
Agora a vida matou o sonho que sonhei
Vitor Hugo, que não conhecia o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, conseguiu denunciar a miséria de seu século ao mundo inteiro, com uma obra tão fantástica que perdura até hoje, mas infelizmente toda a miséria denunciada por ele também!
A vida miserável conduz o ser humano à uma existência vazia e sem esperança, mas ao levarmos a mensagem da cruz, todos os sonhos são ressuscitados pelo Rei dos Reis, Príncipe da Paz e Senhor dos Senhores, YESHUA HAMASHIA!
Pense nisso. Agradeça a Deus por cada refeição, pela dádiva da vida e pela salvação misericordiosa.
Pense na igreja de Cristo como ela foi sendo estabelecida, não só aqui “em Jerusalém”, mas também “em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra .” Um dia, há muito tempo atrás, nós fomos “os confins da terra”!
Deus tenha misericórdia de nós.
NEle
(Classe de missões da Igreja Presbiteriana Central de Fortaleza)
Fonte: Christian+ Friends of Israel